Cinco vozes inconscientes

Um templo cheio de sinos pequenos e grandes numa tempestade afundou no mar. Uma lenda indiana ensinava que, frequentemente, se podia ouvir os sinos. Certo jovem passou um mês na praia tentando escutá-los, mas não conseguiu. Decepcionado, no último dia, repousando em silêncio profundo, escutou o bimbalhar de um sino, depois outro e mais outro e logo após milhares deles. No relaxamento, essa suave sinfonia encheu seu coração alegremente. Assim são:

Os cinco sons da flauta dentro de nós chamados “vozes inconscientes”.
Nosso Criador se comunica conosco espiritualmente abraçando-nos no seu amor e nos direciona para o melhor caminho no serviço da Divina Majestade. Deus fala diretamente ao coração e nos conduz com delicadeza, com carinho, com poder e com liberdade para seguir as vozes interiores, grandes e pequenas. Com corações abertos, atentos, nos sintonizamos com as cinco vozes. Deus responde suavemente nas carícias do Espírito Santo.

“Quais são essas cinco vozes inconscientes?”
São as dinâmicas que ocorrem em toda a nossa volta. 1. A primeira voz vem diretamente do Cristo na força do Espírito; 2. E a procura da diversão e prazer, dinheiro, da carne que São Paulo chama “Sarx”; 3. E a procura de perfeição humana como no budismo (que não é uma religião, porém, uma filosofia de vida) não desejando nada. Santo Inácio espiritualmente aperfeiçoa a ideia com “desapego”; 4. E a Ciência procurando servir a humanidade não porque segue Cristo, mas, simplesmente, para aperfeiçoar a humanidade comum. Chama-se “humanismo natural”; 5. E a “voz das trevas” com assassinatos, subversão da liberdade, vivendo na “máfia da vida”.

De certo modo, essas cinco vozes são “objetivas”. Realmente, não existe independemente de nós, como a chuva. São intersubjetivas, já que existem entre nós e a nossa disposição e vida sempre. Nascemos nesse ambiente com pessoas que vivem na máfia, e outros, cientificamente, não necessariamente recebendo a voz de Cristo.

Os que decidem levar a vida Cristã no Espírito Santo, procuram se afastar das vozes das trevas e tornam-se discípulos sérios libertados de “Sarx”. Os discípulos sérios preferem fazer o bem por amor a Cristo em vez do humanismo natural.
Infelizmente, somos tentados e no Pai Nosso rezamos “livrai-nos de nossas tentações e de todo o mal”.

Temos que meditar e contemplar para sabermos o que nos leva a viver uma vida no Espírito de Cristo.

Em outras palavras, precisamos de discernimento das vozes inconscientes.


Por Padre Haroldo J. Rahm, SJ (in memoriam), Fundador do Amor-Exigente. Artigo publicado originalmente na edição n° 221 da RevistAE, em Fevereiro/2018.